José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos







O Homem de Três Portas

 

 

Sou sincero, mas discreto,
ocasional de raíz,
passante de trilhas,
abertas ao sol e à
meigas estrelas; e
nega, supostas notícias,
que arredado procura,
pela próxima mulher.

Assim caminho eu,
sabe lá Zeus como faço.


Mas que teimo,teimo,
 feito casca grossa,
 com visão curta,
mas com coração de criança,
imerso em cálida roupagem de coragem,
roupa comprada pela mãe
no armarinho de
duas portas.

De mitologia tem muito:
sempre esquecido,
só procurado pelos visigodos,
na hora em que as
portas se fecham
e vou eu lá abri-las,
como se abrem os espíritos
abatidos e magoados.

Homem de três vezes,
nenhuma mulher,
visgo, passageiro,trivial,
carona do sentimento
do próximo,
ávido comezinho de
desgraças particulares.

Assim, como um revoar
de pássaros albergues,
peço ao próximo
que se aproxima
de lancetes à mão
que pra ser ferido estou
pronto.


Mas pra ser amado
já sou um monte de
ferro-velho
encalhado no
centro do mundo !

 

(Poesia dedicada a Ponciana )

 






A Loucura de nos Une

 

 

A loucura que nos une,
nos faz mais loucos,
é a loucura dos loucos,
de amor ou ódio,
que une com mel
a saída
desta breve
paisagem.

 

Para ir até longe, 
muito longe,
até o fim do mundo,
onde fomos descobrir,
tarde demais,
que o fim do mundo
morava dentro da gente.

 

 

 








 

 

Sou filho das águas

e não me apetece o largo;

sou filho da álgebra com

o amor.

Na matemática de horrores,

nasci aqui com gritos de dor !

E só grito azul,

pois fui nascida no verde.

 











Saias de Chegada

 

 

Já vi de tudo, 
do casco ao tombadilho, 
do céu, à terra, 
tudo espelha seu rosto, 
tudo diz de você, 
do começo ao fim; 
e já vi de tudo, 
seu espírito mais brando, 
que é sorvido no cálice de 
cristal, alinhado de flores. 
 
Vitória dos poucos, 
lembrança dos vagos! 
 
Já vi o mar e as 
areias rainhas, 
vi 
o céu 
e também 
rezei as 
ladainhas! 
 
Vi homens lutando por migalhas de 
pão. 
Vi o mundo girar ao contrário 
como uma gude atrapalhada! 
 
Feliz vitória de 
um homem que um dia 
achou que era só 
e foi descobrir que o eu 
só não existe. 
 
Existe a distância e reta 
- meu bom senhor - 
mais tudo dá sua volta, 
igual a flores relegadas! 
 
Mas neste jogo 
nada têm volta. 
 
E se volta tiver, 
aguada que seja, 
quero ser seu par 
de olhos e 
amaciar sua mão branda, 
e resfolegar igual a 
uma rainha, 
envolta e sossegada, 
em mil 

saias de chegadas! 
 











 

As Travessuras de Rosinha

 

sou

muito
precavido
de tentar,
até duas
vezes,
o laço
de viver.

 

ora, de
muito simples,
vim da roça,
de charrete,
por trilhas
de cavalos,
sempre
rodeado
de flores,
e árvores
nem sempre
prumas.

 

vim por vir,
cheguei
de bruço
e torquilho
de dores.

tudo isso
pra ver
rosinha:
mulher de
ritmo forte,
cabelos
de amor e
cachecol,
com
olhos
benditos
de andorinhas.

 

vim alegre,
de passo
rápido.

mateiro.


ah! quase me
quebrei
na cidade
grande.

me explodi
igual
belo
morteiro.

mas fui na
casa de
rosinha.

 

fui lá de
saudade
batendo
de medo,
igual à
tora-tora,
de árvore,
que caem

perto de casa.

quando cheguei
à custo,
na casa
da flor
rosinha,
e a encontrei
no parapeito
no janelão
fazendo festa
de traição,
nos
braços
de outro 
amor,
de última hora.

 

Moral da história, sem amor e sem

moral :

 

fui parar na
Legião Estrangeira
um local até aprazível.
- pois matam por matar -
e querem lugar melhor
pra esquecer da rosinha ?

 






Notícias Que não me Chegam

 

Assim, se você procura notícias
minhas, vai me encontrar sempre no sótão
da vida, onde nem  o sol entra
e as enluaradas noites dão uma
sofreguidão de vazio distante,
de corrupção interior,
de perdas e poucos achados.


Se você quiser notícias minhas
nem dedal vai achar!

Sou pouco.

Brando e órbito de largaduras.

Notícias minhas você só vai encontrar no
próximo bar,

que fica sempre na esquina
de minha vida.

Barba por fazer,
pés por lavar,
mãos entrelaçadas e oleosas.

Ali estou sempre a espera dela.
Entre um aguardente e outro
espero e espero, sempre
fitando a próxima esquina da vida.

E, por isso, até pro um asilo quiseram
lá me levar!

Mas a grande notícia,
que deve ser manchete, em breve,
que não dou a mínima,
pois só dará tempo,
se o cosmo não falhar.

 

Mas se 

minha fuga,

bem folheada

e explicada

der certo,

estou lá:
 quadra A,
número 345.

 


















 

 

E falando de amor

 

Vim do próximo

e acabei distante.

 

Uma hora um, depois
outro, e chega a vez do próximo,
tudo numa reza só.

 

Nesta festa de vivos,
sou roupa de passar,
mas estou sempre voltando
pro mesmo corpo.

 

Desmedido tempo
de meu tempo,
de
minhas coisas
sem nomes,
sem rumo,
sem luz,
coroado apenas
de esperança,
de esperas,
mas feneço
quando me entregam
um passado
que não é meu.

 

Largo tempo,
e não perdôo,
todo se foi
vestido de garoto
de festa comum.

 

Largo tempo,
que já não tem sobras,
e delas não cobro;
mas se você olhar
pros lados
vai ver que minha
história é igual
a sino enferrujado 
cheio de estafa,
mas que um dia
foi amado.

 

Estamos sempre perdendo
pro tempo,
este, augusto, aproveita
pra levar todos,de um pouco
de nós, que estão na enfermaria dos escombros.

 

Somos roupas de passar,
brevidade das horas,
suave amanhecer desconhecido,
onde cotovias anunciam
uma nova vida. mas
que já vai ser abatida no primeiro vôo

 

E meu
medo já é conhecido e ardente.

 

E, dizem,lá onde moram:
o sol tem receio de estrelas
muito puras e candentes,
pois, dizem lá,
nosso sol é só um,
e as estrelas são milhares
e ardentes.

Mas tropeçamos no ambivalente - um depende do outro.

Em respeito,: amor não é consórcio é feixos de luzes !

 

 (Poesia dedicada a Ticiana )

 

 



























 

As Flores  Aveludadas da Vida

 

 

 

Não escreva sem pensar e sempre escreva com meio pesar, pois a vida não é perfeita. Quem busca a perfeição, vira estátua que, com o tempo, vai sendo esquecida. Não faça o que não pode, mas tente realizar tudo o que deseje. Se não tiver sorte no início, vai ter no fim.

 

O fim como a fala diz é quase lá, mas tem viés. 

 

Pode ser quase, ou nem tanto. Faca esforço, mas não muito.  

Há outros mais preparados para isso.

 

No todo, se não conseguir  achar o amor de sua vida. Deixe o amor de verdade e vá viver com outro amor - que seja melhor e tanto parecido, mas, no fim, sentirá  que não é a donzela que imaginava. 

 

Não faça nada rotineiro, não iguale, não supere ou se derrote. É lá com os derrotados que deve também chorar. O mundo está cheio de conquistadores e vencedores. E trazem consigo um bagagem de surpresas, mágoas e tristezas. E uma coroa de futillidades.

 

Seja covarde na hora certa. E valente a cada minuto. Não seja bravo porque tem poder, senão vai parar na História. Lá não tem vida. Tem a contagem de outros homens bravios.

 

Você não vai querer ser esquecido lá. 


Alguns homens pensam que ficam, mas a História os tornará pó varrido.


Faça diferente. 


Comece do fim e achará o início. 


Se acoberte na grama verdeada, levemente úmida pelo orvalho, e aguarde as flores nascerem próximo às suas mãos.


É nesse momento que você começará a conquistar os ramos da bondade e do  amor. Então, mesmo pobre e esquecido, o nascer do aveludado das pétulas, no seu espírito e corpo, o tornará um homem inesquecível.

 

(Poesia dedicada à Taciana )

 















 

Tudo Muito Frenético, Até Histérico

 

 

fui pra ficar
perto dela
- juntinho -.

 

sentamos na sala
eu, ela,
mãe,
pai.

atmosfera
toda familiar.

ela doida por amplexo,
eu doido
por isso também.

mas só na sala
ficamos.

o pai
me serviu
cigarrro,
a mãe,
chá.

fui pra ficar
perto dela,
mas minha
noite
virou oferenda.

fiquei perto dela
- é verdade -.

mas fumei
um maço de
cigarros,
e bebi
1 litro
de chá.

moral de
minha história:
passei a fumar,
passei a só
chá tomar.

e muher que é bom?
minha linda mulher?

o pai mandou
meu amor,
estudar
no monastério !
Ah! Que pai feérico !

Pois eu?
só,
e meio, ou de todo,
meio histérico !

 

(Poesia dedicada à Ticiana )

 











Ir é Fácil, Voltar é Que é o Problema

 

 

Mulher asssim,

é mulher duas vezes,

que rompe o pensar

e dobra os arcanjos

só em olhar.

 

Tudo muito simples,

tudo muito vago,

às vezes complexo,

outras se parecendo com

um grande lago azul.

 

Reluz com qualquer luz,

Resplande no fluxo da lua;

parece mar, mas não é,

é de açúcar, é doce, é

feita de ançores e

tem gosto de comidinha.

Mas não é de frequentar rua.

 

Mulher de duas voltas

de palavra complexa

se mede às alturas das estrelas,

chega a ser do tamanho do céu.

 

Não crê em quase nada,

por isso - danada - difícil

de se embrenhar no  seu amor.

Para feitá-la é preciso ter

dom. Até ter um parente divino.

 

Vivi com ela um tempo

sem medidas,

não contei meus sonhos

dentro dela,

mas medi seus olhos

com perdição.

 

Mulher difícil,

de ângulos diferentes,

de roupas sutis,

de mãos latentes,

de lábios lascivos.

 

Tudo nela era ocasional.

 

E foi nesse ocasional

que ela partiu,

um dia,

sem dizer nada.

 

Fiquei largo e magro

todo desbotado.

 

(Poesia dedicada à Ticiana )

 

 












 

A vida dos portentosos é cheia de poder e mandanças.

Acontece que  há mais de mil anos ou mais,

o poder é passageiro,

igual a uma flor que brota hoje e amanhã  

já está definhando.

No fim de sua ilusão deixa um rastro de dor em sua trilha.

O lado ruim igualmente é o buraco de fragilidades que vem depois.E, por fim, chegamos ao tênue - a liberdade nunca foi livre .

 










 

Reino Canelado

 

 

Tudo como se fosse novo:
a palha, o rústico, a forma.


Tudo como se fosse de uma vez
só:
o breu, o cáustico, a solda.

Lampeja: você se envolve e
quando acorda
não percebe
a perca de seu vôo.

Você planeja sua vida em
ritmo de aluguel.
rende mais sal do que
o pleno açúcar.

Depois, não vá rastejar:
o chão é bruto,
não tem ângulo,
você é a forma
sem conteúdo!


Dá de lá, pega daqui.


Tudo numa rifa infernal,
onde as coisas do coração
ficam especiais:
lentas e sombreras.

Se você quer ser você
já não pode, porque o
vazio já tomou
seu lugar.

E se você é o anfitrião da dor,
menos mal.


A fruta não sola a terra,
o sol não vinga sua força,
a sombra reina soberana:
em sua última peça.

Tratava do sol e do nó,
arguto sistema de nós dois.
Quando você partiu
e nos deixou,sós.

Mas se a vida vale alguma coisa,
não vale sem você.

Fica tudo vazio,
sem bordas,
chameado de
falsa sinceridade:
é troco enganado,
é voz engasgada,
é muro de pedra.

Assim, pra te alcançar outra
vez,
só mesmo vindo o outra vez,
quando o mundo cansar
de dar voltas,
e parar de repente.

Ai será a volta
do reino canelado
na minha vida
já tão amargurada!

 

(Poesia dedicada à Ticiana )

 












 

 

 

Mesa dos Abonados

 

 

Voo, mas não é meu plano,
corro os cerrados, avisto montanhas.
Depressa me defendo:
faço o vôo razante.

E faço por ela
e ela não diz por mim,
se meço sua distância
vejo pouco:
nado em alturas.

Sintonias de saudade:
não posso chegar lá,
e nem ao menos
conquistar algum pedaço
da terra povoada por ela,
ou a meia-parte do cerrado:
lascivo canto onde dorme sonolenta!

De tudo ela levou
De bravo: só um ficou !

A metade de seu rosto
deixou de ser espelho
de duas faces - guarnição
moderna dos sozinhos .

E no sereno do mar galeu,
atiçam ondas sem nome
lá na praia onde só abortam
os sinais dos mortos.

E tudo se apruma
sem o apoio de cedros do
passados.

E me fere,
e me augusta:
o pêndulo e o galope!

Se você segue,
não sigo mais.
Perdi e não tenho
ganho.

E se algum dia
me perguntarem
por tal flor,
digo eu lá:
veste a mais bela
mesa de vesta e
purpurina, e no fim, sentamos n mesa dos abonados.

 

(Poesia Dedicada à Ticiana )

 












 

 

O Vento e a Água

 

Agora, quando o vento da
tempestade se aproxima,
me preparo
para receber o assolo
do vento que se mistura
com a água.

E diz ela:
diz até trovejante,
ou você faz de mim
um brilhante de luzes,
ou faço de você
uma despedida
de três passagens,
todas de idas,
sem aragem
de voltas !

 

E ela me diz constriste:

ou você vai pra chuva

ou eu vou rodar ruas !

 

( Poesia dedicada à Ticiana )

 









 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 05/02/2023
Alterado em 20/11/2023


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