José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


                        
Tudo como se fosse novo:
a palha, o rústico, a forma.


Tudo como se fosse de uma vez
só:
o breu, o cáustico, a solda.

 

Lampeja: você se envolve e 
quando acorda
não percebe 
a perca de seu vôo.

 

Você planeja sua vida em
ritmo de aluguel.
rende mais sal do que
o pleno açúcar.

 

Depois, não vá rastejar:
o chão é bruto,
não tem ângulo,
você é a forma
sem conteúdo!


Dá de lá, pega daqui,
tudo numa rifa infernal,
onde as coisas do coração
ficam especiais,
lentas e sombreras.

 

Se você quer ser você 
já não pode, porque o
vazio já tomou
seu lugar.

 

E se você é o anfitrião da dor,
menos mal.


A fruta não sola a terra,
o sol não vinga sua força,
a sombra reina soberana:
em sua última peça.

 

Tratado do sol e do nó,
arguto sistema de nós dois.


Quando você partiu
nos deixou, só

e abriu uma  avenida de vazio.

 

Mas se a vida vale alguma coisa,
mais vale sem você.

 

Fica tudo vazio,
sem bordas,
chameado de
falsa sinceridade:
é troco enganado,
é voz engasgada,
é muro de pedra.

 

Assim, pra te alcançar outra
vez,
só mesmo da outra vez,
quando o mundo cansar
de dar voltas,
e parar de repente.

 

Ai será a volta 
do reino canelado
na minha vida
já tão amargurada!

 

A solda arde,

o sol queima,

a saudade é faina e dor

e o amor entrou ríspido

por uma porta

e saiu por outra.

 

(Poema dedicado à Ticiana )

 

 

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 22/12/2022
Alterado em 22/12/2022


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