O chão foi feito pra pisar
- diz ela enfática -
não pra cair - continua,
ínfima de beleza,
com deslubrante certeza.
Cair porquê ?
Sentir a poeira dos pisados,
o assoalho da multidão,
tal indiferente,
tal incoerente,
não é lá coisa digna!
Azáfama! Caio todo dia
e as calçadas tem cheiro
de humanos.
Tudo
meio esquisito,
mas ferozes
de antiguidades !
Porque não me julgam
humano civilizado.
São de pedra e de doer.
Mas cair porquê?
Penso eu lá nos confins
de minha vida.
Sou santo tonto,
amarrotado de saudades,
e, quando ela diabra mais,
vou eu pros quatro dedos
de vinho rosado -bem igual
a sua face.
Hoje vou caindo toda hora.
Dizem que amor não machuca.
Dói sim!
Dói tanto que você começa
a levitar no ar, direto pro chão.
E passa lá a gurizada e, condiz,
meeiramente:
lá está o homem...
lá está o cão...
Paciência!
Na outra vida nasço alguém
pra tentar não machucar ninguém.
Mas a vida passa hora sim, hora não,
de colher, vai pingando o tempo.
Meu medo é o vinho doce
acabar,
e nisso perco os sonhos,
e deixo de viver
a saudade dela !